Para Mariazinha

Por Pedro Du Bois, 31.05.2012

Caros amigos,

          Conheci Mariazinha em 2002, quando entrei para esta Academia. Ela integrava a diretoria, na função de Secretária. Sabia das suas funções e do importante papel que desempenhava (e desempenhou) na nossa agremiação.

          Direta e objetiva, logo assumiu a presidência. Não quis se reeleger, sob a alegação – difícil de ser encontrada nos dias de sempre – de que todos deveriam passar pela presidência e que o cargo não devia ser “estacionamento” de alguém e/ou alguns.

          Desenvolveu profícuo trabalho durante a sua gestão. E tanto ajudou aos próximos mandatários, quer com sua experiência, quer com sua boa vontade. Destaco o encontro das academias de letras do sul do Brasil, com a presença de tantos representantes da literatura sulista-brasileira.

          Mariazinha muito me auxiliou nos trabalhos que realizamos durante a minha investidura na presidência: leitora voraz, crítica argumentativa, mulher de ações, companheira de todas as horas.

          Sinto saudades de nossas conversas. Devia tê-la procurado mais. Ter bebido mais da sua experiência de vida; mas, como todo o arrependimento é tardio e infrutífero, ressalto seus frutos.

          Discorro sobre sua faceta feminina batalhadora, tanto em sua família, quanto em seu trabalho como professora. Exemplo para todos. Obstinada na superação dos obstáculos que a vida se encarrega de colocar para a provação humana, sempre desenvolveu ações afirmativas que a impulsionassem em direção ao futuro.

          Digo sobre a Mariazinha escritora, literata, fiel representante das letras em nossa Academia. A Maria de Lourdes Cardoso Mallmann, amiga das letras em suas tramas: prosa e poesia. Habilitada em tecer histórias, casos e poemas. O linguajar despido da veleidade do palavreado difícil, textos de singeleza ímpar, vista a complexidade e a sofisticação com que tratava os temas objeto de sua escrita.

          Tive o privilégio de conviver – a seu pedido – com diversos dos seus textos. Revisei alguns, porque em seu livro, “Versos que vêm do Mar de Itapema” mereci, em suas palavras, “meu carinho e reconhecimento pela ajuda maravilhosa”.

          Na minha homenagem, aflora a escritora. Importante ressaltar: Escritora. Sim, Mariazinha detinha a capacidade de contar histórias, criar enredos, tramar; capaz de escrever romances com o primor de suas descrições em relação aos personagens, aos ambientes e à contextualização. Ousou novelas e contos, além do prosaísmo e da literatura do diariamente. Mais que escrever, seus textos ensinam a escrever, espelhados nas tantas premiações que obteve ao longo de sua carreira.

          Poetiza de larga sensibilidade, amante da natureza e do mar de Itapema, deixa como legado literário o seu versejar sobre esses elementos e os sentimentos humanos.

          Escreveu sobre os sentimentos, sem pieguice, traduzindo a rara capacidade – inerente ao escritor maior – de manter o distanciamento crítico necessário à produção da obra de arte.

          Nas “Estações da Vida”, em seu “Versos que vêm do Mar de Itapema”, esclarece:

                    “É verão!

                    Tempo de sol, melodia

                    viver em plena alegria.

                    O ar é quente, é paixão

                    que envolve com emoção.

                    É hora de realizar

                    é tempo de semear”.

          Somos seus devedores, dívida que procuramos pagar em infinitas parcelas, com o respeito e a lembrança – diuturna – de sua presença amiga e companheira e de sua obra. E, entre tantas possibilidade, sugiro batizar a nossa Sala, na Biblioteca Pública Municipal, com o nome de Sala Maria de Lourdes Cardoso Mallmann.

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