BREVÍSSIMA HISTÓRIA DO AMOR CONFLITUADO DE UMA MULHER QUE ACREDITA SER AMADA E DE UM HOMEM BÊBADO, ASQUEROSAMENTE AFUNDADO NA PIEDADE

©CARLOS HIGGIE

CONTO

E um suor de espinhos que não consegue

Afugentar o esquecimento

Há uma lágrima que vai do infinito

Às costas desta praia

Um tremor de adeuses nos esbofeteia

As entranhas

Porém o tempo

Majestoso

É incapaz de gritar basta.

(RÉQUIEM PARA UM ESQUECIMENTO/ RUBINSTEIN MOREIRA)

Manchas enormes de umidade nas paredes. Uma chuva fina e descompassada molhava o asfalto das ruas hostis.

Bebeu um longo gole de cerveja, amarga e quente. Um sabor de folha de cinamomo verde invadiu sua língua.

Carolina caminhava de um lado a outro. Estava nervosa. E velha. Viu-a desenhar-se na pouca luz da tarde e assustou-se. Todos os anos tinham-lhe caído em cima. Velha. Irremediavelmente velha.

Outro gole de cerveja deixou-lhe um gosto de repolho podre, um gosto que se prolongava perto da garganta.

Carolina olhou-o como se fossem estranhos. Fermentava entre eles um sentimento nocivo e doloroso. Uma falta total de qualquer coisa que não podiam e não queriam explicar. Tão velha que lhe dava pena.

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